ASPECTOS GEOGRÁFICOS
A
cerca de três quilómetros da sede do concelho, na margem direita do rio
Lima que lhe oferece uma excelente praia fluvial, estendendo-se por
cerca de 326 há, a maior parte na Zona Protegida (Lagoa de Bertiandos),
Bertiandos distingue-se pela riqueza e harmonia paisagística dos seus
sítios - muito marcados pela sua ligação ao rio Lima - e por um
considerável acervo monumental. Os seus limites estão estabelecidos
pelas seguintes freguesias: Sá, a norte, Santa Comba, a nascente,
Correlhã (na outra margem do rio Lima), a Sul e Arcos a Poente.
RESENHA HISTÓRICA
O
Solar de Bertiandos, uma das construções senhoriais mais notáveis do
Minho, é constituído por dois imóveis setecentistas, diferentes entre
si, um de cada lado de uma torre do século XVI (alinhada um pouco
atrás).
A fundação do solar remonta ao século XV e à família dos
Pereiras. Em 1566, a viúva de D. Lopo Pereira, D. Inês Pinto, a quem se
deve a construção da torre, instituiu no solar dois vínculos
independentes: um, no corpo oriental do palácio de então, destinado ao
filho mais velho; o outro, no corpo ocidental e na torre, entregue ao
filho segundo. Os dois irmãos vieram depois a zangar-se, e durante mais
de dois séculos os seus descendentes viveram sem contactos, realizando
obras, como entenderam, nas partes respetivas do palácio. Parece ser da
primeira metade do século XVIII o edifício do lado poente, caracterizado
pela sua estrutura horizontal e simétrica em que dois corpos com
alpendres, de colunas maneiristas, flanqueiam o corpo central e
brasonado, de duas janelas muito simples e balcão de grades de ferro. No
piso inferior há um arco redondo sob cada um dos alpendres (arcos que
dão para entradas do prédio, como há, sob o balcão do corpo central,
dois arcos abatidos que abrigam janelas das lojas.
O edifício erguido
a nascente é mais monumental e posterior, talvez do terceiro quartel de
Setecentos, mas de uma arquitetura também regional, sóbria e
arcaizante, Na sua fachada nobre corre, ao meio, uma varanda de sete
colunas toscanas, debruada, em cima, por uma faixa transversal de
ornatos salientes e, em baixo, pelas aberturas de uma porta e janelas.
Dois torreões quadrangulares vigiam esta fachada, um em cada extremidade
dela, com janelas nos muros e pirâmides nos telhados.
É harmónico
cada um dos edifícios, conjugando-se bem um em relação ao outro - mais
baixo e recuado o do lado oeste. A torre quinhentista liga-os, ao fundo,
recortada de merlões chanfrados.
Em 1792 as famílias desavindas das
duas casas fizeram as pazes e uniram-se através de um casamento. A
entrada principal passou a ser a escadaria do edifício de nascente,
escadaria que se apoia numa arcada e se encosta a uma parede do torreão
ocidental. Nesse mesmo torreão desperta curiosidade, numa das janelas do
seu terceiro piso, a armação furada de seteiras posta no século XIX
para defesa de eventuais salteadores.
Contrariamente ao que, em
geral, sucede nas antigas residências senhoriais da Ribeira Lima, o
Palácio de Bertiandos alberga nos seu aposentos um excelente espólio dos
séculos XVII -XIX, no qual se contam peças de mobiliário e de armaria,
pinturas, tapetes e louças. Magnífica é a livraria, com volumes e
manuscritos antigos, a maioria conservando as encadernações primitivas.
Na capela, ereta no século XVIII na retaguarda do solar, vêem-se painéis
de azulejos setecentistas de temas religiosos - alguns oriundos do
demolido Convento do Vale de Pereiras, de Arcozelo, também no concelho
de Ponte de Lima -, dentre outros, diversos, elementos de valor
artístico.
O pátio fronteiro aos dois edifícios do século XVIII
chegava, antes de a estrada o cortar, até ao rio Lima. Já fora da atual
cerca do solar, ainda se mantém de pé um pombal de Setecentos. E dentro
da cerca eleva-se um velho marco miliário romano, do século III, que na
segunda metade do século XVIII serviu de pelourinho (adornado de um
capitel e de uma cruz de ferro), enquanto durou o breve concelho de
Bertiandos.
Ainda a respeito da história da freguesia, no Inventário
Coletivo dos registros Paroquiais Vol. 2 Norte Arquivos Nacionais /Torre
do Tombo pode ler-se textualmente:
«Em 1258, na lista das igrejas
situadas ao norte do rio Lima, elaborada por ocasião das Inquirições de
D. Afonso III, Bertiandos aparece, como sendo uma das igrejas
subordinadas ao bispado de Tui. No catálogo das mesmas igrejas, mandado
organizar pelo rei D. Dinis, São Salvador de Bertiandos foi taxada em 80
libras. Em 1444, a comarca eclesiástica de Valença, situada
Entre-Os-Rios Lima e Minho, foi desmembrada do bispado de Tui, passando
este território a pertencer ao bispado de Ceuta, até 1512. Neste ano, o
arcebispo de Braga. D. Diogo de Sousa deu ao bispo de Ceuta, D.
Henrique, a comarca eclesiástica de Olivença, recebendo em troca a de
Valença do Minho. Em 1513, o papa Leão X aprovou a permuta. No Censnal
de D. Diogo de Sousa (1514- 1532), em que se apresenta o rendimento dos
140 benefícios eclesiásticos da comarca de Valença para o arcebispado de
Braga, Bertiandos rendia 39 réis e 20 alqueires de pão meado. Em 1546,
no registo da avaliação de D. Manuel de Sousa, foi avaliada em 30 mil
réis. Na cópia de 1580 do Censual de D. Frei Baltasar Limpo, refere-se
que São Salvador de Bertiandos era da apresentação do arcebispo e de
padroeiros leigos. Segundo Américo Costa, era abadia da apresentação
alternada dos dois morgados, que eram ramos da Casa de Bertiandos.»